O que normalmente se espera de um
filme, no qual Bradley Cooper (Se beber não case) e Jennifer Lawrence (Jogos
Vorazes) são os protagonistas e que, no primeiro ato, apresenta dois
personagens que estão passando por sérias crises pessoais, que se encontram,
brigam, se apaixonam e ajudam um ao outro a superá-las? Provavelmente que é
mais uma comédia romântica amontoada de clichês e previsibilidades.
O mais interessante de assistir O Lado bom da Vida é a surpresa
que nos toma no desenrolar da trama, em cada nova sequência, nas quais o galã
sai de cena e dá espaço a um homem transtornado, obsessivo e bipolar, advindo
de uma interpretação super expressiva e comprometida que justifica bem a
indicação ao Oscar de Melhor Ator a Cooper.
Dirigido por David O. Russel (The
Fighter), a obra gira em torno de dramas pessoais decorrentes de
relacionamentos amorosos que fracassaram, e desemboca em uma sequência bem
humorada de encontros e tentativas de superação. Pat (Bradley Cooper) é
um homem que, por volta dos seus trinta anos, encontrava-se internado em uma
clínica psiquiátrica após ter uma crise agressiva ao flagrar sua esposa (e
grande amor) o traindo em sua própria casa.
Após oito meses, volta ao convívio
familiar, o qual se percebe de imediato que não é um ambiente nada popício à
reabilitação. Neste momento, temos a excelente surpresa de ver Robert De Niro (Taxi Driver,
Entrando Numa Fria), interpretando o pai, Sr. Pat Solitano, figura cheia obsessões, manias
e demonstrações violentas, as quais, ao mesmo tempo que destacam a total
instabilidade daquela família, dão uma dose de comédia, devido aos exageros.
Tem lugar, ainda, a Sra. Dolores Solitano (Jacki Weaver), como a
figura materna, passiva e esperançosa de que tudo irá voltar aos
conformes.
Ao retomar suas antigas amizades, Pat
conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma garota que perdeu o marido
de forma trágica e tem sérias dificuldades em superar tal fato, descontando seu
desequilíbrio em sexo descompromissado e mudanças repentinas de humor. Vale
destacar que a primeira demonstração de empatia entre o casal é em uma conversa
bem humorada sobre os diferentes remédios psiquiátricos aos quais se
submeteram, com a descrição dos seus respectivos efeitos.
Em um segundo momento, Tiffany, dotada
de forte personalidade e certa agressividade, tem a iniciativa de se aproximar
do rapaz, que a repele sob justificativa de que é casado e de que irá
reconquistar sua esposa. Após insistentes perseguições, calorosas brigas e diálogos
explosivos, ambos decidem se ajudar a superar o que tanto os consome e o que os
exclui do convívio social.
David O. Russel decidiu por utilizar um
drama pessoal de forma brilhante (seu filho sofre de transtorno bipolar),
apresentando ao expectador as dificuldades de uma família em conviver com um
filho que, há qualquer momento, pode ter atitudes destruidoras. Demonstra,
ainda, o desafio que é para esse indivíduo se ressocializar, pois, às vistas da
sociedade, ele é um doente agressor. Mas na verdade, o personagem sofre com a
obsessão por uma mulher, que não mais o deseja e que o teme, e faz disso um
amor platônico e infantil. Nesse meio tempo, Tiffany, igualmente transtornada,
aparece na trama para mostrar que conhece e admite os próprios desequilíbrios e
que podem supera-los juntos.
O diretor abusa de diálogos
espetaculares, nos quais utiliza do artifício do campo/contracampo, assim como
o de focos nos personagens, que, atrelados a interpretações elogiáveis, dão
velocidade à cena, com um ritmo incessante, proporcionando a quem assiste a
sensação de euforia, beirando a falta de ar. Muitas vezes se sente a
dificuldade de acompanhar o desenrolar dos fatos, o que não compromete o
entendimento, mas, apenas, aproxima o expectador do ambiente de crise. Vale lembrar,
ainda, da utilização da câmera em movimento, com zooms repentinos
em gestos e expressões que denotam à ansiedade e o desequilíbrio dos
personagens, em especial em Pat e em seu pai.
O Lado bom da vida (vítima das
péssimas adaptações de títulos, diga-se de passagem), portanto, tem como
plano principal dramas pessoais, passionais e familiares, apresentados com
humor na medida certa e atuações marcantes. Foi responsável, ainda, pelo
retorno de Robert De Niro, que há um tempo não acerta em suas escolhas cinematográficas
– vide sua interminável parceria com Bem Stiller -, agora em uma comédia
romântica bem trabalhada, roubando a cena em praticamente todas as suas
aparições.
Não se pode negar os vários clichês da
trama, desde frases de efeito e idas e vindas amorosas à um número de dança
como clímax da história. Também não posso deixar de falar que o final deixa a
desejar, não estando à altura da trama original que se constrói. No entanto, o
conjunto da obra traz uma abordagem interessante, com profundidade nos momentos
de drama, sacadas inteligentes ao fazer comédia e personagens que fogem do
padrão desse gênero, muitas vezes previsível. É um filme intrigante, com
atuações excelentes, uma trilha sonora que encaixa perfeitamente em cada
circunstância (destaque pra Led Zeppelin tocando em um dos momentos de
fúria do protagonista) e usos de câmeras que marcam o ritmo veloz da
história, o que denota uma direção exemplar.
O filme foi indicado a 8 Oscars nas
categorias: Melhor Filme, Melhor ator (Bradley
Cooper), Melhor atriz (Jennifer Lawrence), Melhor ator
coadjuvante (Robert De Niro), Melhor Atriz coadjuvante (Jacki
Weaver), Melhor Diretor (David O. Russel), Melhor
Roteiro Adaptado (David O. Russel) e Melhor montagem.
A melhor crítica que eu já vi do filme. Não concordo muito com o final, mas tudo bem.
ResponderExcluirA Jennifer consegue pegar o melhor desses personagens que já existem. Ela soube tirar muito bem a personalidade da Tiffany que tem nas páginas e colocar em prática para as telas. Eu me surpreendi com a atuação do Bradley. Só tinha gostado de um filme dele que foi "sem limites".
Eu também achei o filme com alguns clichês e o final um pouco fraco, mas assim como você achei o decorrer do filme muito importante. Tiffany se aceita exatamente como é e a luta dos personagens para tentar levar uma vida normal apesar de tudo também mostra detalhes muito bons, como por exemplo, todo mundo tem um pouquinho de loucura. Mas acho que o remédio principal é primeiro se aceitar, só assim para encarar o problema e depois ser aceito pelos outros. Boa crítica. Beijos
ResponderExcluir