17 fevereiro 2013

"D-J-A-N-G-O. O D é mudo."



E finalmente estou aqui falando, já completamente passional, de Tarantino. Não só isso! É da sua volta às telas de cinema. E como eu já falei em outras oportunidades no blog (e pretendo melhor expor isso em, quem sabe, uma série Tarantino), Quentin é meu preferido. Mas hoje vim aqui pra falar de Django Livre!

Quem conhece seu histórico, sabe que o diretor tem características super marcantes e que quebrou um pouco dessa linha com Bastardos Inglórios. É um filme genial, com diversos toques tarantinescos e atuações excelentes. Mas se percebe facilmente que foi uma ruptura de estilo, pois é dotado de mais preocupação técnica, cortes estratégicos, ambientes realistas, um ar de seriedade e diálogos mais específicos. Bom, estou falando disso porque notei que em Django, ao mesmo tempo que, em comum a Bastardos, é um roteiro que expõe um momento histórico de massacre e preconceito, dotado de críticas ferrenhas, bem como conta uma história de "caça" e vingança, também é composto pelas tão constantes referências e influências que o diretor, de forma original, sempre inclui em suas obras (e que ficaram de molho desde Kill Bill e Death Proof).



O filme se inicia em 1858, dois anos antes da Guerra Civil dos Estados Unidos, em um ambiente escravocrata, segregador e racista do sul norte-americano. Dr. Schutz (Chritoph Waltz), um ex dentista alemão caçador de recompensas está à procura de um escravo chamado Django (Jammie Fox), que conhece três fugitivos oficiais os quais ele quer capturar, matar e trocar por recompensa. Nas suas andanças, encontra o negro acorrentado a outros escravos, que serão vendidos por comerciantes sulistas. Já nessa primeira cena, o diretor dá aquele gostinho bom aos seus admiradores e conhecedores de sua obra, com muito sarcasmo e, principalmente, tiros e jorradas de sangue inexplicáveis.


Ao juntar-se com Dr. Schutz, um branco inconformado com o tratamento animalesco dado aos negros naquela região, Django é liberto e toma gosto pela ocupação do alemão: matar bandidos por dinheiro. Além disso, ele tem um propósito: achar sua esposa, Broomhilda, que foi vendida a uma das maiores fazendas do sul. Ao chegar nas ricas terras do jovem Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), Django faz o papel de comprador de negros e companheiro de Schultz, para ludibriar o não tão inteligente senhor de escravos, mas que não perde a pose, tentando aparentar conhecedor e culto. No entanto, não contavam com a mente por trás de Calvin, Stephen (Samuel L. Jackson), um negro perspicaz e bajulador, com total influência na casa grande. E entre tiros, sangue e muito sarcasmo se faz o ato heroico de Django.


esse sangue não é tarantinesco hein gente, é do próprio DiCaprio rs

Django Livre é um balde cheio de ironia, no qual Tarantino retratou uma sociedade extremamente segregadora, onde os negros eram comercializados nas feiras e tratados como animais domésticos. Destaque para uma das falas de Stephen, um negro racista, que remete à continuidade dessa segregação nos tempos, com a exploração das próximas gerações. E que personagem genial esse, com uma atuação impecável de L. Jackson. Já  Waltz vem incrível, admirável e digno de aplausos como o libertador e caçador de recompensas, mas não dá pra deixar de mencionar que é um retrato idêntico, mas ideologicamente às avessas, do espetacular Landa, de Bastardos. DiCaprio, com seu primeiro vilão, cumpriu o seu papel e foi bem encaixado naquela figura do mimado e sádico senhor de escravos, que se delicia ao ver dois negros se matando da forma mais cruel. 

Em sua nova obra, Tarantino tem toda a liberdade para explorar sua conhecida violência, que nem tanto causa ojeriza, mas muitas vezes faz rir, devido aos jatos de sangue e tiros enormes e inesperados, o que demonstra que, mesmo estando em uma fase bem mais madura, não deixa suas influências do trash pra trás. Aliás, verossimilhança nunca foi grande preocupação sua (vide Kill Bill). Utilizou bastante do seu tão conhecido zoom in com a câmera, ao apresentar personagens importantes (o Candie, por exemplo), o que fez lembrar tanto do seu histórico cinematográfico. Ainda, homenageou os velhos westerns spaghettis, que tanto admira e onde muito se inspira. E quanto bom humor! (brinca até com a Klu Klux Kan!). Destaque pra sua referência ao criador do personagem Django dos anos 60, Franco Nero, que aparece no filme em um diálogo super inteligente com Foxx, no qual este explica a pronúncia do seu nome, já tão conhecida pelo velho ator de westerns. Por fim, menciono a trilha sonora, escolhida brilhantemente, incluindo até rap no meio do velho oeste.


Foxx e Franco Nero

Confesso que, como nem tudo pode ser perfeito (nem o mestre!), senti muita falta de uma mulher "tarantinesca", forte, destemida, corajosa e violenta, tão presente na maior parte da obra do diretor. A mulher mais central da trama, Broomhilda, tem um papel de mera princesa trancada num castelo, à espera do seu príncipe negro.  

Mas, fora isso, Django veio pra mostrar o quanto Tarantino ainda pode criar e fazer seus fãs se arrepiarem e vibrarem nas cadeiras dos cinemas, com suas tão conhecidas referências, mas sempre originais e cheias de sarcasmo, violência gratuita e bom humor. 

Django Unchained foi indicado a cinco Oscars, sendo eles Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante (Christoph Waltz), Melhor Roteiro Original, Melhor Edição de Som e Melhor Fotografia.



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