19 setembro 2013

Da necessidade de desabafar: Before Midnight



É, eu tô cansada, com sono e tenho que acordar cedinho amanhã pra trabalhar. No entanto, preciso desse desabafo pra conseguir dormir de verdade. Acabei de chegar da sessão de Antes da Meia-Noite (Before Midnight). 

O filme é de uma beleza arrepiante. Em todos os aspectos. 
É, gente, apesar de não ser tão adepta dos romances e suas variações, sou uma completa apaixonada pelos Befores.

Lembro quando assisti Antes do Amanhecer (1995), por indicação de um colega de muito bom gosto cinematográfico. Já me afeiçoei completamente com os personagens, o ambiente, os diálogos, percebendo claramente que se tratava de um dos filhos de Woody Allen. Mais do que uma influência, a trilogia mais me parece uma Ode ao diretor novaiorquino, mais especificamente a Annie Hall



Logo em seguida, me veio Antes do Pôr-do-Sol (2004). Esse foi, realmente arrebatador. O filme é um longo diálogo, que mostra os jovens românticos de "Sunrise" já amadurecidos, revelando o desfecho daquele primeiro encontro, passados dez anos. É uma Celine (Julie Delpy) e um Jesse (Ethan Hawke) já não tão românticos, absorvidos pela rotina diária e um tanto quanto desgastados no amor. Inclusive, essa Celine muito me é familiar (gosta de tirar um som no seu violão, apenas pra si e é fã de Nina Simone). 

Agora, os já completamente deslumbrados com os Before foram presenteados com o retorno de Celine e Jesse, passados mais dez anos. E, amigos, vê-los na telona (no meu caso, pela primeira vez), foi uma experiência estonteante. O cinema é mesmo mágico. Eu, que não sou das mais sensíveis em filmes de amor, nem mesmo com os mais fortes dramas, me emocionei, de chorar mesmo, com a simples visão deste casal dez anos mais velho, no cinema. Com uma vida construída, com novas crises e diálogos novamente geniais. Jesse, o quarentão com jeito de adolescente e Celine, a quarentona bem sucedida, independente, metida a feminista, com crises especialmente agoniantes ao espectador. 



Segue o roteiro de praxe, por meio de um diálogo entre o casal, agora acerca de uma nova fase da vida, tendo como plano de fundo uma paisagem belíssima, que acompanha o ritmo e até a sensação de cada assunto. 

Não posso deixar de expor uma cena maravilhosa, para mim a mais especial do filme, em que o diretor, que foi genial do início ao fim, junta em uma mesa de conversa sobre amor, sexo e relacionamento, casais de todas as gerações: dois senhores já viúvos, um homem e uma mulher casados há cerca de 15 anos, Céline e Jesse e um casal de namorados, em torno dos seus 22 anos. Neste momento, se discute sobre a evolução dos relacionamentos, nos quais o amor não é a prioridade, e sim a compreensão e a liberdade individual, expondo, ainda, o sexo "moderno". No entanto, o assunto é arrematado pela fala de uma idosa, viúva, que expõe, com toda sua experiência, um conceito de companheirismo e sentimento real que sobreviveu a todas as gerações. É de arrepiar. É pra levar pra vida. 

Além disso, vale ressaltar que neste filme, bem mais do que nos anteriores, ele apostou em uma comédia mais presente, na verdade em um melodrama pelo qual a lindíssima Julie Delpy se responsabilizou e fez maravilhosamente bem. 



Linklater (Escola do Rock) construiu uma trilogia da vida em tempo real. Talvez, de modo que ele mesmo tivesse respaldo, pela experiência adquirida, para poder escrever os diálogos sensacionais dos filmes. 

Gostaria de tê-los acompanhado como, acredito eu, o diretor/roteirista pretendia que todos acompanhassem. Aos 21, assistido Before Sunrise, momento de muita vontade de viver, de ter um grande amor. de se aventurar, de se arriscar. Aos 30, assistido Before Sunset, onde você conhece todas as demandas da vida, tem um emprego, nem sempre o que você sonhou, as contas e responsabilidades, uma esposa/marido, filhos, a realidade (não necessariamente cruel ou solitária, ainda, sem qualquer romance). E aos 40, assistido Before Midnight, momento de incertezas, no qual se pára e pensa: o quê que eu fiz da vida? A fase de se fazer um balanço, de refletir se o que você planejou aconteceu, assim como de perceber as enormes e difíceis escolhas que a vida te mostra. 

Confesso, e isso é bem pessoal, que aos 19, foi com a segunda Céline que me identifiquei. Em praticamente tudo. Mas digo aliviada que não cheguei à terceira Céline (espero que tenha muito chão pra andar!).

Enfim, estou ainda emocionada e desejo a todos a possibilidade de acompanhar essa trilogia e sentir tudo (e até mais) o que o último, Antes da meia-noite, me proporcionou. 

Desculpem o jeito rápido de escrever, o sono bateu de verdade. 

2 comentários :

  1. O filme é muito bom. Gostei muito da cena no quarto do hotel (contracenar naquele nível - a Julie Delpy tava nua -, é coisa para atores que se conhecem MUITO). Também gostaria de ter acompanhado a trilogia com a mesma idade dos personagens: foi exatamente isso que me aconteceu com os livros do Harry Potter, e o resultado foi fantástico :D. Ainda acho que o melhor é o segundo: até hoje, foi o único filme que, quando acabou, voltei o DVD e assisti de novo :)

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    1. ai, essa sua comparação com Harry Potter foi uma lembrança espetacular! :)

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