17 dezembro 2008

O som...


"E como tudo que é som e é bom, quando antes no tempo foi feito primeiro e Adão, e a Erva do chão que brotou fez seu berço e leito – tudo começou no terreiro da África. Como tudo que há no mundo, que veio pra cá como pássaro que voou, e que nesse mundo aja se asa bata abra ou faça som, será eterno só se for sempre num só segundo, mesmo que pedra, pois pedra berra e seu eco férreo faz leve o chumbo, e eco é som que o ar repete pro ar que pede tão cego e surdo, ora absurdo agora é achar que o ar não tem cor nenhuma: se o ar dá a flor, quer mais flor que o arco-iris?

E o som é igual, só não acha cor quem os olhos põe pra ver lá fora o que é seu mas assopra e mora dentro, na cova da alma que lava no claro o que se cobre no breu -- o olhar o olfato ouvido paladar assim o tato, a paisagem rara que se faz no eu, e o céu dá o tom na pauta em gás em prisma, e o olho dom focal é a voz do surdo, que lê no lábio a cor pra ouvir o mundo a chave que abre e traz o som onde ar é água, palavra é nada, voz de girafa, engarrafado mar, cabe se não acaba, vive sem nome, some se é visto, nasce bem ave, morre peixinho, carne de vagem, lunar fotosíntese, sol frio polar, centopéia sem pés com cem raízes, mapa mundi na mão na palma, napalm feito de espermas de efeito contrário - só sabe fertilizar. O amor é adubo que vai salvar o que resta de floresta e no o cimento fazer arvores choverem do céu do chão, aos milhares e aos milhões. O que a gente faz quando mistura tudo, som céu ar cor, flor do absurdo? Viver é ter um sonho um sopro um só socorro ser Quixote e não atacar o redemoinho, apenas ser mais um deles."
Nando Reis

Um comentário :

  1. Lindo mesmo aqueles textos.
    e os seus também......fico
    sempre feliz em passar aqui!

    ResponderExcluir